O estudo será apresentado por capítulo.
Estudo do Capítulo 21 – Espíritos Dementados
Visitando os albergues do Posto, André Luiz e Vicente acompanham os encarregados da assistência. O chefe do Posto atende e conforta vários Espíritos necessitados que o procuram, presos a problemas inferiores, pois se julgam ainda encarnados.
Malaquias, um dos enfermos, reclamava com Alfredo a demora do atendimento de sua petição. Estava preocupado com suas terras e seus escravos. Alfredo lhe diz que é preciso, primeiro, cuidar da saúde e ele se acalma. Aristarco receia que os primos lhe tomem sua parte na herança dos avós e indaga se seu pedido já foi enviado ao Imperador. Alfredo o esclarece quanto aos verdadeiros bens que ele poderá alcançar diante da Vida Eterna, e lembra que os primos, quando deixarem a Terra, nada poderão levar consigo. Essa idéia acalma o enfermo. Aproxima-se então uma senhora que reclama a volta ao lar, alegando que seu marido, se ela não voltar, dissipará seus bens e perseguirá as filhas. Alfredo procura esclarecê-la, sugerindo o desapego pelos bens passageiros, para poder ganhar os eternos bens, mas a mulher afasta-se encolerizada, incapaz de qualquer compreensão. Na verdade, ela desencarnou quando pretendia envenenar o marido, às ocultas, e os outros eram tiranos em seus domínios. Depois de passarem por um longo período dormindo, julgam-se ainda encarnados, supondo que podem dissimular suas pretensões criminosas.
Estudo do Capítulo 22 – Os que Dormem
A equipe chega a pavilhão escuro, situado em área com três quilômetros de extensão, mais ou menos. No interior, espaçosas enfermarias. Silêncio absoluto... Têm semblante horrendo, quase todos estampando pavor, em cadavérica palidez... São os “embr iões da vida” ou “fetos da espiritualidade”, paralíticos do bem. André observa o calor orgânico, a pulsação regular e os movimentos respiratórios, apesar da extrema rigidez dos membros, como num processo de catalepsia.
Quem não a exercitar de algum modo, na Terra, preferindo deliberadamente a negação injustificável, encontrar-se-á mais tarde sem movimento. Semelhantes criaturas necessitam de sono, de profundo repouso... (Aniceto, cap. 22, pág. 122)
Estudo: Qual a modificação que estou fazendo para essa consciência espiritual, para minha evolução moral?
Falo tanto em Deus me ajude e o que eu estou fazendo para receber essa ajuda?
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“Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou no meio deles”. (Mateus, 18:20)
A prece como autopasse => Assim como o homem através dos seus fluidos pode influenciar o seu semelhante, presente ou a distância, pode também agir sobre si mesmo.
O autopasse requer concentração para poder colocar-se na posição de receptor. A seguir, é necessária a meditação e a prece fervorosa. Segundo André Luiz, Nos Domínios da Mediunidade, "A oração é prodigioso banho de forças, tal a vigorosa corrente mental que atrai".
A prece fervorosa, associada à fé na ajuda espiritual, acelera as nossas vibrações, facilitando a ligação com os benfeitores.
A prece impulsiona nossas energias para o alto e atrai as energias espirituais que, somadas às nossas, voltam sobre nós, trazendo fluidos renovadores, a fim de conseguirmos operar com eficiência em favor do próximo. E assim, ajudando, somos também ajudados.
Estudo do Capítulo 19 – O Sopro (Continuação)
O que é o Passe?
É a transferência de fluidos de uma pessoa a outra, através da prece e imposição de mãos, procedimento largamente usado nos centros espíritas. As energias são oriundas dos fluidos humanos (do passista) e fluidos espirituais (dos Espíritos que trabalham com a equipe de médiuns). Existem três tipos de magnetismo: o humano, o espiritual e o misto. O tipo de magnetismo utilizado nas casas espíritas é o misto, pois à ação dos encarnados soma-se a ajuda benéfica dos Espíritos que trabalham na área, qualificando, direcionando e potencializando os fluidos.
Que são fluidos?
Os fluidos são veículos do pensamento dos Espíritos, tanto encarnados quanto desencarnados. Todos estamos mergulhados no fluido cósmico universal, substância básica da Criação, que varia da imponderabilidade até a ponderabilidade. Os fluidos espirituais estão impregnados dos pensamentos dos Espíritos, portanto varia de qualidade ao infinito. A atmosfera fluídica é formada pela qualidade dos pensamentos nela predominantes.
Estudo do Capítulo 20 – Defesas Contra o Mal
O Posto de Socorro tem defesas múltiplas, mantendo à distância “irmãos consagrados ao mal, perversos e criminosos, entidades verdadeiramente diabólicas”. O Posto está equipado com armas que não exterminam, apenas defendem, disparando projéteis elétricos que causam impressão da morte, isso porque na esfera espiritual a matéria mental pode modificar o corpo denso todos os dias .
As fortificações do Posto impressionavam. Fossos que deixavam passar a água corrente, a torre de vigia, o caminho da ronda, a cisterna, as seteiras, as paliçadas e os pequenos canhões, tudo lembrava as fortificações terrestres. No cume da torre de vigia, tremulava uma enorme bandeira de paz, muito alva. Alfredo explicou que era indispensável defender o Posto, embora sua tarefa fosse de concórdia e harmonia. As entidades votadas ao mal não eram apenas ignorantes ou inconscientes. A maioria se constitui de indivíduos perversos e criminosos, entidades verdadeiramente diabólicas. Daí a necessidade de defesa permanente e a importância das fortificações. Na Crosta, os homens menos felizes lutam pela dominação econômica, pelas paixões desordenadas, pela hegemonia dos falsos princípios. Ali tem-se tudo isso em identidade de condições. Mas as balas utilizadas na defesa do Posto não são feitas de aço; são projetis elétricos, que assustam terrivelmente as entidades e podem causar a impressão de morte. Os projetis expulsam os inimigos do bem através de vibrações do medo, podendo causar a ilusão da morte ao atuar sobre o corpo espiritual denso de Espíritos muito atrasados no caminho da vida. Para ilustrar seu relato, Alfredo contou ao grupo a lenda hindu da serpente e do santo.
Alfredo sorriu serenamente e perguntou, bem humorado:
— Vocês conhecem a lenda hindu da serpente e do santo? Ante a nossa expressão negativa, o administrador continuou:
— Contam as tradições populares da Índia que existia uma serpente
venenosa em certo campo. Ninguém se aventurava a passar por lá, receando-
lhe o assalto. Mas um santo homem, a serviço de Deus, buscou a região, mais
confiado no Senhor que em si mesmo. A serpente o atacou, desrespeitosa. Ele
dominou-a, porém, com o olhar sereno, e falou: — Minha irmã, é da lei que não
fará mal a ninguém. A víbora recolheu-se, envergonhada. Continuou o sábio o
seu caminho e a serpente modificou-se completamente. Procurou os lugares
habitados pelo homem, como desejosa de reparar os antigos crimes. Mostrou-
se integralmente pacífica, mas, desde então, começaram a abusar dela.
Quando lhe identificaram a submissão absoluta, homens, mulheres e crianças
davam-lhe pedradas. A infeliz recolheu-se à toca, desalentada. Vivia aflita,
medrosa, desanimada. Eis, porém, que o santo voltou pelo mesmo caminho e
deliberou visitá-la. Espantou-se, observando tamanha ruína. A serpente
contou-lhe, então, a história amargurada. Desejava ser boa, afável e carinhosa,
mas as criaturas perseguiam-na e apedrejavam-na. O sábio pensou, pensou e
respondeu após ouvi-la:
— Mas, minha irmã, houve engano de tua parte. Aconselhei-te a não
morderes ninguém, a não praticares o assassínio e a perseguição, mas não te
disse que evitasses de assustar os maus. Não ataques as criaturas de Deus,
nossas irmãs no mesmo caminho da vida, mas defende a tua cooperação na
obra do Senhor. Não mordas, nem firas, mas é preciso manter o perverso à
distância, mostrando-lhe os teus dentes e emitindo os teus silvos.
Nesse momento, Aniceto sorriu de maneira expressiva.
O administrador fez longa pausa e concluiu:
— Creio que a fábula dispensa comentário.
Estudo do Capítulo 18 – Informações e Esclarecimentos
No Posto chegam sinais de batalhas sangrentas na Terra (o ano era 1944), provocando grande tempestade magnética. Grandes massas de desencarnados (pela Segunda Guerra Mundial) superlotam os Postos de Socorro de várias colônias espirituais. É citada a Colônia “Alvorada Nova”, situada em zonas mais altas, com intercâmbio com avançados núcleos de espiritualidade superior, de planetas vizinhos.
Os que não se encontram nas linhas de fogo, permanecem nas linhas da palavra e do pensamento. Quem não luta nas ações bélicas, está no combate das idéias, comentando a situação.
Reduzido número de homens e mulheres continuam cultivando a espiritualidade superior.
O erro de uma nação influirá em todas...
A Humanidade terrestre é uma família de Deus, como bilhões de outras famílias planetárias no Universo Infinito. Enquanto houver discórdia entre nós, pagaremos doloroso preço em suor e lágrimas.
Trecho do livro “Os Mensageiros” para suporte ao slide.
Os enfermos da Guerra - O ambiente espiritual na Terra, por causa dos combates que se desenvolviam na Crosta, era muito pesado. Alfredo sugere que Aniceto e seus companheiros pernoitem no Posto, porque os aparelhos indicavam aproximação de grande tempestade magnética para aquele dia. Os combates na Terra eram intensos e poucas pessoas cultivavam a espiritualidade superior. Natural, pois, que se intensificassem, ao longo do planeta, espessas nuvens de resíduos mentais dos encarnados invigilantes, multiplicando as tormentas destruidoras. Os Postos de Socorro de várias colônias ligadas ao Campo da Paz já estavam superlotados de europeus desencarnados violentamente. Os mentores espirituais mais elevados decidiram remover pelo menos 50% dos desencarnados na guerra para os núcleos espirituais americanos. Ali mesmo encontravam-se mais de 400 espíritos. Aniceto pergunta pelas dificuldades de linguagem e Alfredo esclarece que, para cada grupo de cinqüenta infelizes, as colônias do Velho Mundo fornecem um enfermeiro-instrutor, com quem eles se entendem de modo direto. Essa remoção visava a proteger a coletividade dos Espíritos encarnados nas regiões de origem, porque essas aglomerações de desencarnados determinariam focos pestilenciais de origem transcendente, com resultados imprevisíveis.
Embalde voltarão os países do mundo aos massacres recíprocos. O erro de uma nação influirá em todas, como o gemido de um homem perturbaria o contentamento de milhões. A neutralidade é um mito, o insulamento uma ficção do orgulho político. A Humanidade terrestre é uma família de Deus, como bilhões de outras famílias planetárias no Universo Infinito. Em vão a guerra desfechará desencarnações em massa. Esses mesmos mortos pesarão na economia espiritual da Terra. Enquanto houver discórdia entre nós, pagaremos doloroso preço em suor e lágrimas. A guerra fascina a mentalidade de todos os povos, inclusive de grande número de núcleos das esferas invisíveis. Quem não empunha as armas destrói dons, dificilmente se afastará do verbo destruidor, no campo da palavra ou da idéia. Mas, todos nós pagaremos tributo. É da lei divina, que nos estendamos e nos amemos uns aos outros. Todos sofreremos os resultados do esquecimento da lei, mas cada um será responsabilizado, de perto, pela cota de discórdia que haja trazido à família mundial.
A prece é uma luz mais intensa no coração dos homens. Bem se diz que a estrela brilha mais fortemente nas noites sem luz.
Trecho do livro “Os Mensageiros” para suporte ao slide.
O farol de Bristol - O valor da prece nos tempos de guerra ainda mais se acentua. Alfredo relatou então a curiosa experiência que ele presenciou em Bristol, na Inglaterra. A cidade estava sendo sobrevoada por alguns aviões pesados de bombardeio. As perspectivas de destruição eram assustadoras. No seio da noite, destacava-se, porém, à visão espiritual, um farol de intensa luz. Seus raios faiscavam no firmamento, enquanto as bombas eram arremessadas ao solo. O grupo de Espíritos desceu ao ponto luminoso. Verificou-se então, com surpresa, que eles se encontravam numa igreja, cujo recinto devia ser quase sombrio para o olhar humano, mas altamente luminoso para os olhos espirituais. Alguns cristãos corajosos reuniam-se ali e cantavam hinos. O ministrante do culto lera a passagem dos Atos em que Paulo e Silas cantavam à meia-noite, na prisão, e as vozes cristalinas elevavam-se ao Céu, em notas de fervorosa confiança. Enquanto as bombas explodiam lá fora, os cristãos cantavam, unidos, em celestial vibração de fé viva. O chefe do grupo mandou que Alfredo e seus companheiros se conservassem de pé, diante daquelas almas heróicas, em sinal de respeito e reconhecimento. E disse "que os políticos construiriam os abrigos antiaéreos, mas que os cristãos edificariam na Terra os abrigos antitrevosos".
Estudo do Capítulo 19 – O Sopro
São citados sistemas espirituais de transporte, com base no eletromagnetismo. Há esclarecimentos sobr e o passe de sopro curador, cujos passistas “exercitaram-se longamente, adquirindo experiências a preço alto”. Imprescindível, no caso, “a pureza da boca e a santidade das intenções”. Passistas encarnados deverão ter “estômago sadio, boca habituada a falar o bem, com abstenção do mal e a mente reta, interessada em auxiliar”.
Dois livros, psicografados por Chico Xavier, abordam a gênese da vida na Terra, colocando a atividade espiritual envolvida nesse complexo processo. São os livros Evolução em dois mundos, de André Luiz, e A caminho da luz, de Emmanuel. André Luiz tenta nos mostrar a dimensão de nossa galáxia, comparando-a com uma cidade imensa.
São citados sistemas espirituais de transporte, com base no eletromagnetismo.
Há esclarecimentos sobre o passe de sopro curador.
- No passe - o espírito acumulando energias e estimulando a sensibilidade do médium, conjuga forças psíquicas e vitais para a transmissão dos recursos de cura.
O passe espírita é prece, concentração e doação.
“O pensamento é criador, é a causa inicial de nossa elevação ou nosso rebaixamento. Podemos fazer à vontade em nós, a luz ou a sombra, o céu ou o inferno. Não só emitimos como recebemos, mas quem determina a qualidade do retorno é o emissor.”
(Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor, C. 24)
Naquele Posto utiliza-se, com freqüência, a técnica do sopro curativo. À semelhança do passe, o sopro curativo poderia ser utilizado pela maioria das criaturas, com vantagens prodigiosas. Mas o assunto requer esforço individual e longo preparo. Os técnicos do Posto não se formaram de pronto. Exercitaram-se longamente, e, para a tarefa, precisam conservar a pureza da boca e a santidade das intenções. Alfredo, ante a surpresa de André, lembrou que o sopro da vida percorre a Criação inteira. "Nunca pensaram no vento, como sopro criador da Natureza?", indagou o dirigente do Posto de Socorro. Aniceto também explicou que no Ministério do Auxílio, em "Nosso Lar", há grande instituto especializado no assunto. "No plano carnal, toda boca, santamente intencionada, pode prestar apreciáveis auxílios, notando-se, porém, que as bocas generosas e puras poderão distribuir auxílios divinos, transmitindo fluidos vitais de saúde e reconforto", acrescentou Aniceto.
Estudo do Capítulo 16 – No Posto de Socorro
Como é a vida no Plano Espiritual?
Chegam os três a castelo-educandário soberbo, resguardado por pesados muros. No interior, pomares e jardins maravilhosos. A.Luiz vê um quadro, pintura em tela, que já havia visto em Paris, quando encarnado. Fica sabendo que o pintor da tela de Paris copiou-a desse original, após vê-lo, em sonho.
A noção de céu e inferno, fundamente arraigada na mente popular, não deixa perceber que os homens, de modo geral, não se modificam com a morte física, como a troca de residência não significa mudança de personalidade para a criatura comum.
MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO (ESE – Cap. II, pg 66 - S. João VV.33,36 e 37)
Para quem se coloca, pelo pensamento, na vida espiritual, que é indefinida, a vida corpórea se torna simples passagem, breve estada num pai ingrato. As vicissitudes e tribulações dessa vida não passam de incidentes que ele suporta com paciência, por sabê-las de curta duração, devendo seguirse-lhes um estado mais ditoso. A morte nada mais restará de aterrador; deixa de ser a porta que se abre para o nada e torna-se a que dá para a libertação, pela qual entra o exilado numa mansão de bem-aventurança e de paz. Sabendo temporária e não definitiva a sua estada no lugar onde se encontra, menos atenção presta às preocupações da vida, resultando-lhe daí uma calma de espírito que tira àquela muito do seu amargor.
Esta paz reflete o estado mental dos que vivem neste pouso de assistência fraterna. Acabamos de atravessar uma zona de grandes conflitos espirituais, que vocês ainda não podem perceber. A Natureza é mãe amorosa em toda a parte, mas, cada lugar mostra a influência dos filhos de Deus que o habitam. (pgs. 104/105)
Ocultar a própria glória é do código do bom tom nas sociedades espirituais nobres e santas. (pg. 103)
“ANDRÉ LUIZ SE ADMIROU AO ENTRAR NAS DEPENDÊNCIAS DO CASTELO COM O QUE?”
• POMARES E JARDINS
• GRANDES FOCOS DE LUZ RADIANTE
• PAVILHÕES NUMEROSOS
• MAIS LUZ NO CÉU
• PAZ REINANTE NO AMBIENTE
• TURMAS VARIADAS DE TRABALHADORES
O quadro de Florentino Bonnat - A sede do Posto de Socorro foi construída à maneira de formoso castelo europeu dos tempos feudais. As escadas de substância idêntica ao mármore impressionavam por sua beleza. Uma varanda extensa e enfeitada de hera florida, diferente da conhecida na Terra, dava acesso a um vasto salão mobiliado ao gosto antigo. Nas paredes, quadros maravilhosos. Uma tela de Bonnat, representando o martírio de São Dinis, o apóstolo gaulês rudemente supliciado nos primeiros tempos do Cristianismo, enfeitava o salão. André Luiz informou ao administrador do Posto de Socorro que o original daquele quadro, segundo sabia, encontrava-se no Panteão de Paris. Alfredo, o gentil anfitrião do pequeno grupo, retrucou dizendo que, na verdade, aquele quadro fora feito por nobre artista cristão, numa cidade espiritual ligada à França. Em fins do século passado, o grande pintor Bonnat, durante o sono, visitou aquela colônia e viu o quadro, depois reproduzido por ele em tela que ficou célebre no mundo inteiro. Muitas criações artísticas são obras dos homens, mas nem todas são originariamente da Terra, esclareceu o administrador do Posto de Socorro.
Estudo do Capítulo 17 – O Romance de Alfredo
Multiplica-se o número de necessitados que recorrem ao Posto?
Enormemente. Nossa produção de alimentos e remédios tem sido integralmente absorvida pelos famintos e doentes. Tenho quinhentos cooperadores, mas nos sentimos presentemente incapazes de atender a todas as obrigações.
Comentários:
Trabalho realizado no Posto de Socorro.
André informa que a palestra de Alfredo e as observações de Ismália estavam cheias de notas interessantes e educativas.
E qual a sua impressão dos serviços em geral? — perguntou
Aniceto, atencioso, dirigindo-se ao dono da casa.
— Excelente, quanto às oportunidades de realização que nos oferecem- respondeu Alfredo em tom significativo — entretanto, não tenho o mesmo parecer quanto à situação em curso. As zonas a que servimos estão repletas de novidades dolorosas. O presente período humano é de conflitos devastadores e as vibrações contraditórias que nos atingem são de molde a enfraquecer qualquer ânimo menos decidido. Desencarnados e encarnados empenham-se em batalhas destruidoras. É uma lástima.
Multiplica-se o número de necessitados que recorrem ao Posto? — continuou indagando nosso orientador.
— Enormemente. Nossa produção de alimentos e remédios tem sido integralmente absorvida pelos famintos e doentes. Tenho quinhentos cooperadores, mas nos sentimos presentemente incapazes de atender a todas as obrigações. As massas de sofredores são incontáveis. Noutro tempo, nossa paisagem se mantinha sem sombras, durante muitas semanas, mas agora...
Minha esposa e eu temos o divino compromisso da união eterna, mas ainda não lhe mereço a presença contínua. Ela é a bondade celeste, e eu, a realidade humana.
ALFREDO
Ø responsabilidade no campo dos negócios materiais;
Ø longe de comprender as obrigações sublimes de esposo e pai;
ISMÁLIA
Ø era a providência de nossa casa;
Ø companheira fiel e dedicada.
Comentários:
O aprendizado com as experiências vividas. A história de Alfredo e Ismália quando encarnados.
Resumo:
Alfredo, o dirigente do Posto relata a história da sua união com a esposa, cuja companhia ele ainda não pode usufruir, pois quando encarnados, ele desfez o casamento, por ouvir calúnias contra ela, que era inocente e que pelo abandono desencarnou, com tuberculose.
Ismália e Alfredo formavam um par feliz na última existência terrestre; no entanto, salteadores perversos espreitavam sua ventura. Ismália sofrera calada, o assédio de um sócio do marido, que a perseguira por alguns anos consecutivos, sem sucesso. Como vingança, o sócio começou a caluniá-la junto ao Alfredo. Dando ouvidos à calúnia, Alfredo sentiu que o relacionamento no lar tornava-se aos poucos intolerável. Em qualquer gesto da esposa, ele via maldade e tentava descobrir segundas intenções. Por fim, seu sócio subornou um homem que se ocultaria dentro da casa de Alfredo, para ser por ele visto dali saindo, em atitude suspeita. Alfredo, avisado da suposta traição da mulher, pensa que Ismália tivera um encontro com o estranho. Em extremo desespero, ele penetra os aposentos do casal, onde Ismália repousa e a acusa em voz alta. Toma depois uma arma e atira várias vezes tentando atingir aquele vulto que fugia de sua casa, esgueirando-se na sombra... Olhos congestos, vomitando insultos, quis eliminar a esposa, banhada em lágrimas a seus pés. No entanto, alguma coisa, que ele nunca pôde compreender na Terra, paralisou-lhe o braço quase homicida. Vociferando blasfêmias, Alfredo afastou-se do lar. Estava rompido o casamento. Ismália foi devolvida à casa paterna, destituída do contato com os filhos, que ficaram com o pai. Dois anos depois, entre as angústias da saudade e do abandono, Ismália seria colhida pela tuberculose, falecendo em terrível martirológio moral.
Muito tempo mais tarde, Alfredo vem a saber que tudo fora uma farsa: seu ex-sócio, momentos antes de desencarnar, contou-lhe toda a história. A loucura irremediável o transtornou e foi assim que regressou ao mundo dos Espíritos, em tristes condições espirituais. Ismália o amparou nos momentos mais difíceis, mas, residindo num plano superior, ele não podia agora contar com sua presença permanente a seu lado.
Estou resgatando crimes de precipitação. Pela impulsividade delituosa, perdi minha paz, meu lar e minha devotada companheira. Conforme ouviram, não matei nem roubei a ninguém, mas envenenei-me a mim próprio. A calúnia é um monstro invisível, que ataca o homem através dos ouvidos invigilantes e dos olhos desprevenidos.
Comentários:
A necessidade da transformação moral para que possamos ter merecimento da benção Divina, amparando nos nas lutas...
Estudo do Capítulo 14 – Preparativos
Com esse capítulo iniciamos a segunda parte do livro que vai até o capítulo 32, onde o estudo é direcionado na descrição de atendimentos prestados a encarnados e a desencarnados, pela equipe de mensageiros do “Nosso Lar”.
Aniceto transmitiu aos dois amigos uma visão inteiramente nova acerca da oração.
"Não podemos abusar da oração aqui, segundo antigas viciações do sentimento terrestre", explicou Aniceto. No círculo carnal, costumamos utilizá-la em obediência a delituosos caprichos, suplicando facilidades que surgiriam em detrimento de nossa própria iluminação.
Em "Nosso Lar", porém, a oração é compromisso de testemunhos, esforço e dedicação aos superiores desígnios. Toda prece, entre nós, deve significar, acima de tudo, fidelidade do coração. "Quem ora, em nossa condição espiritual, sintoniza a mente com as esferas mais altas e novas luzes lhe abrilhantam os caminhos“.
Por recomendação de Aniceto, André Luiz e Vicente recebem no Gabinete de Auxílio Magnético às percepções, anexo ao Centro de Mensageiros, determinadas aplicações espirituais que, entre outras conseqüências, dilatariam sua visão espiritual.
A princípio, nada de extraordinário André notou, embora sentisse dentro do coração nova coragem e alegria diferente. Experimentava bom ânimo, até então desconhecido.
Meus sentidos da visão e da audição pareciam mais límpidos.
Aniceto, André Luiz e Vicente partem, sem bagagens, para uma viagem de estudos e trabalhos na Crosta, que durariam uma semana. Seguem, porém, um trajeto diferente.
Não utilizam a estrada livre mantida por ordem superior para as atividades normais dos trabalhos espirituais e trânsito dos irmãos esclarecidos, em vésperas de reencarnação.
Aniceto explica que as regiões inferiores entre "Nosso Lar" e a Crosta são tão grandes que exigem uma estrada ampla e bem cuidada, requerendo também conservação, como as rotas terrestres.
Na Terra, obstáculos físicos; ali, obstáculos espirituais. As vias de comunicação normais destinam-se ao intercâmbio indispensável. Os que se encontram nas tarefas de auxílio espiritual e os que se dirigem à reencarnação devem seguir com a harmonia possível, sem contacto direto com as expressões dos círculos mais baixos.
A absorção de elementos inferiores determinaria sérios desequilíbrios no renascimento deles.
O pequeno grupo, porém, seguiria um caminho menos fácil, porque o objetivo era aprendizado e experiência.
Aqui, toda a nossa bagagem é a do coração. Na Terra, malas, bolsas, embrulhos; mas, agora, devemos conduzir propósitos, energias, conhecimentos e, acima de tudo, disposição sincera de servir.
Estudo do Capítulo 15 – A Viagem
A caminho, a equipe faz pausa no Posto de Socorro situado entre “Nosso Lar” e a Crosta, a grande distância desta. A.Luiz e Vicente, sob orientação de Aniceto, vêem-se banhados de luz, pela primeira vez (!). Nas trilhas: frio, ausência de luz solar, paisagens misteriosas, aves horripilantes, rijas ventanias... Aniceto explica aos dois auxiliares que aquela é região sob influência astral da Terra. A seguir cita interessantes dados astronômicos. Informa sobr e a “existência de outros mundos sutis, dentro dos mundos grosseiros”(!).
Daí a pouco chegaram ao cume de grande montanha, envolvida em sombra fumarenta. Trilhas diversas apareciam no solo; foi então que André Luiz viu seu corpo iluminar-se. As surpresas, porém, não cessavam. Mergulhavam num clima estranho, onde predominavam o frio e a ausência de luz solar. A topografia era um conjunto de paisagens misteriosas, lembrando filmes fantásticos do cinema terrestre. Picos muitos altos, vegetação esquisita, aves de aspecto horripilante...
Aniceto explicou que aquele mundo é continuação da Terra...
Depois de algum tempo de marcha, viram ao longe um grande castelo iluminado: era um dos Postos de Socorro de Campo da Paz
Campo da Paz - A conselho de Aniceto, o grupo interrompeu os efeitos luminosos de seus corpos espirituais, para não humilhar os que sofrem com a exibição de seus recursos. A excursão tornou-se menos agradável. Eles desciam através de despenhadeiros de longa extensão. A sombra fizera-se mais densa e a ventania mais lamentosa e impressionante. Depois de algum tempo de marcha, viram ao longe um grande castelo iluminado: era um dos Postos de Socorro de Campo da Paz. Pesados muros cercavam o Posto. Aniceto moveu imperceptível campainha, disfarçada na muralha. Dentro do Posto, pomares e jardins maravilhosos perdiam-se de vista. A sombra aí já não era tão intensa. Eles se sentiam banhados em suavidade crepuscular, graças aos grandes focos de luz radiante. pavilhões de vulto alinhavam-se como se estivessem diante de prodigioso educandário. Árvores senhoris, semelhantes ao carvalho, se enfileiravam. Havia mais luz no céu e o vento era mais fagueiro. Aniceto explicou que a paz refletia ali o estado mental dos que viviam naquele pouso de assistência fraterna. "A Natureza é mãe amorosa em toda parte, acentuou o instrutor, mas cada lugar mostra a influenciarão dos filhos de Deus que o habitam."
Estudo do Capítulo 12 – A palavra de Monteiro
Nessa primeria parte do estudo, do capítulo 1 ao 13, recebemos orientação para o despertar de nossa consciência espiritual. Absorvendo conhecimento para a educação do espírito e para a prática do bem.
Assim refletimos sobre o esforço necessário na reforma íntima, através dos testemunhos de médiuns (desencarnados) que, tendo partido do "Nosso Lar", com tarefas específicas, não conseguiram cumpri-las; no retorno (pela desencarnação), seus relatos são pungentes e esclarecedores...
Novo alerta, enérgico, aos médiuns doutrinadores e aos dirigentes de reuniões mediúnicas. É recomendada a força do exemplo e não a palavra lustrosa... O comportamento do médium na atividade profissional do comércio deve guardar paralelo com a conduta cristã, principalmente com a paciência.
Ele também partira de "Nosso Lar", em missão de entendimento espiritual, quase na mesma ocasião em que Belarmino voltou à carne. Monteiro tivera a própria mãe como orientadora. Sob seu controle, estavam alguns médiuns de efeitos físicos, de psicografia e de incorporação. Mas era tal o fascínio que o intercâmbio mediúnico exercia sobre ele, que acabou se distraindo por completo quanto à essência moral da doutrina.
Era um doutrinador implacável. Chegara a estudar longos trechos das Escrituras, para utilizá-los na conversa com ex-sacerdotes católicos que compareciam às sessões mediúnicas em estado de ignorância e perturbação. Acendia luzes para os outros, preferindo, porém, os caminhos escuros para si, esquecendo a si mesmo. Pregava a paciência dentro do grupo, mas era impaciente lá fora. Concitava os espíritos à serenidade, mas repreendia sem indulgência as senhoras humildes que não continham o pranto de alguma criança enferma presente à reunião.
E no comércio era inflexível com seus devedores. Passava os dias no escritório estudando a melhor forma de perseguir os clientes em atraso, e à noite ia ensinar o amor aos semelhantes, a paciência e a doçura, exaltando o sofrimento e a luta como estradas benditas de preparação para Deus. Na verdade, estava cego, esquecido de que a existência terrestre é, por si só, uma sessão permanente. Quando a angina o levou à morte, encontrava-se absolutamente distraído da realidade essencial. Voltou à vida espiritual qual demente necessitado de hospício. O raciocínio pedia socorro divino, mas o sentimento agarrava-se a objetivos inferiores. Viu-se, assim, rodeado de Espíritos malévolos que lhe repetiam longas frases de suas sessões mediúnicas. Eles, irônicos, lhe recomendavam serenidade, paciência e perdão e perguntavam por que ele não se desgarrava do mundo, estando já desencarnado. A revolta tomou conta de sua alma e, mais tarde, quando já estava recolhido em "Nosso Lar", exigiu explicações para o seu estado, visto que não se considerava fracassado. Veneranda, um dia, foi visitá-lo em momento que reservara a descanso. Monteiro crivou seus ouvidos de lamentações e ela o ouviu, pacientemente, por duas horas. Quando o ex-doutrinador se calou, Veneranda sorriu e disse: "Monteiro, meu amigo, a causa da sua derrota não é complexa, nem difícil de explicar. Entregou-se você excessivamente ao Espiritismo prático, junto dos homens, nossos irmãos, mas nunca se interessou pela verdadeira prática do Espiritismo junto de Jesus, nosso Mestre". Aquelas palavras, como um vulcão, mudaram por completo a atitude mental do ex-doutrinador fracassado.
Citando Jesus como Mestre e Médico, o capítulo expõe os perigos que aguardam os médicos que fazem mercantilismo de tão sagrada profissão.
Plano Piloto da Cidade Espiritual Nosso Lar - localização dos Ministérios
Temos aqui dois Ministérios Celestiais, como o da Elevação e o da União Divina, cuja influenciação santificante eleva o padrão dos nossos pensamentos sem que o percebamos de maneira direta. O estágio aqui, André, representa uma bênção do Senhor, e, por muito que trabalhássemos, nunca retribuiríamos a esta colônia na medida de nosso débito para com ela. Nossa situação é a de abrigados em verdadeiro paraíso, pelo ensejo de serviço edificante que se nos oferece. Quanto a outros companheiros nossos...
A saúde humana é patrimônio divino e o médico é sacerdote dela. Os que recebem o título profissional, em nosso quadro de realizações sem dele se utilizarem a bem dos semelhantes, pagam caro a indiferença. Os que dele abusam são, por sua vez, situados no campo do crime. Jesus não foi somente o Mestre, foi Médico também. Deixou no mundo o padrão da cura para o Reino de Deus. E proporcionava socorro ao corpo e ministrava fé às almas. Nós, porém, meu caro André, em muitos casos terrestres, nem sempre aliviamos o corpo e quase sempre matamos a fé.
Engolfara-me em pensamentos grandiosos, quando o companheiro voltou a falar:
— Tenho um amigo, nosso colega de profissão, que se encontra nas zonas inferiores, há alguns anos, atormentado por dois inimigos cruéis.
Acontece que ele muito faliu como homem e médico. Era cirurgião exímio, mas, tão logo alcançou renome e respeito geral, impressionou-se com as aquisições monetárias e caiu desastradamente. Nos dias de grandes negócios financeiros, deslocava a mente das obrigações veneráveis, colocando-a distante, na esfera dos banqueiros comuns. Não fosse a proteção espiritual, essa atitude teria comprometido oportunidades vitais de muita gente. A colaboração do pobre amigo tornara-se quase nula, e alguns desencarnados nas intervenções cirúrgicas que ele praticava, notando-lhe a irresponsabilidade, atribuíram-lhe a causa da morte física, quando não a esperavam votando-lhe ódio terrível.
Amigos do operador prestaram esclarecimentos justos a muitos; entretanto, dois deles, mais ignorantes e maldosos, perseveraram na estranha atitude e o esperaram no limiar do Sepulcro.
Horrível — exclamei. Se ele, porém, não é culpado da desencarnação desses adversários gratuitos, como pode ser atormentado desse modo?
Explicou Vicente, em tom mais grave:
— Realmente, não tem a culpa da morte deles. Nada fez para interromper-lhe a existência física. Mas é responsável pela inimizade e incompreensão criadas na mente dessas pobres criaturas, porque, não estando seguro do seu dever, nem tranqüilo com a consciência, o nosso amigo julga-se culpado, em razão das outras falhas a que se entregou imprevidentemente.
Todo erro traz fraqueza e, assim sendo, o nosso colega, por enquanto não adquiriu forças para se desvencilhar dos algozes perante a Justiça Divina, portanto, ele não resgata crimes inexistentes, mas repara certas faltas graves e aprende a conhecer-se a si mesmo, a entender as obrigações nobres e práticá-las, compreendendo, por fim, a felicidade dos que sabem ser úteis com segurança de fé em Deus e em si mesmos.
A noção do dever bem cumprido, André ainda que todos os homens permaneçam contra nós, é uma luz firme para o dia e abençoado travesseiro para a noite. O nosso colega, tendo abusado da profissão entrou em dolorosa prova.
— Ah! sim — exclamei .—, agora compreendo. Onde exista uma falta, pode haver muitas perturbações. Quando apagamos a luz, podemos cair em qualquer precipício.
— Justamente.
Calou-se o amigo, andando, muito tempo ao meu lado, como se estivesse surpreendido, como eu, defrontando as avenidas de rosas. Depois de longas meditações, convidou-me fraternalmente:
— Regressemos ao nosso núcleo. Creio devamos ouvir Aniceto, ainda hoje, referentemente ao serviço comum.
Estudo do Capítulo 11 – Belarmino, o doutrinador
É citada profunda conceituação de missão educativa. A doutrinação, no campo do Espiritismo evangélico, é aqui exposta com clareza. Mostra como o médium doutrinador exigente, propenso ao mando, vaidoso do saber, desconfiado dos companheiros de reunião mediúnica, logo adentrará no negativismo. Estará sujeito a múltiplas enfermidades, além de sentir um deserto no coração.
As lições eram eminentemente proveitosas. Traziam-me novos conhecimentos e, sobretudo, com elas, admirava cada vez mais, a bondade de Deus, que nos permitia a todos a restauração do aprendizado para serviços do futuro. Em muitos de nós havia zonas purgatórias de sombra e tormento íntimo. Uns mais, outros menos. Bastara, contudo, o reconhecimento de nossa pequenez, a compreensão do nosso imenso débito e ali estávamos, todo reunidos em “Nosso Lar”, reanimando energias desfalecidas e reconstituindo programas de trabalho. Eu via em todos os companheiros presentes o reflorescimento da esperança. Ninguém se sentia ao desamparo.
Conversa de André com Vicente:
Observando que numerosos médiuns prosseguiam, em valiosa permuta de idéias, referentemente ao quadro de suas realizações, e ouvindo tantas observações sobre doutrinadores perguntei a Vicente, em tom discreto:
— Não seria possível, para minha edificação, consultar a experiência de algum doutrinador em trânsito por aqui? Recolhendo notícias de tantos médiuns com enorme proveito, creio não deva perder esta oportunidade.
Vicente refletiu um minuto e respondeu:
— Procuremos Belarmino Ferreira. É meu amigo há alguns meses. Segui o companheiro, através de grupos diversos. Belarmino lá estava a um canto, em palestra com um amigo. Fisionomia grave, gestos lentos, deixava transparecer grande tristeza no olhar humilde.
A missão do doutrinador é muitíssimo grave para qualquer homem. Não é sem razão que se atribui a Nosso Senhor Jesus o título de Mestre.
Somente aqui, vim ponderar bastante esta profunda verdade. Meditei muitíssimo, refleti intensamente e concluí que, para atingirmos uma ressurreição gloriosa, não há, por enquanto, outro caminho além daquele palmilhado pelo Doutrinador Divino. É digna de menção a atitude dEle, abstendo-se de qualquer escravização aos bens terrestres. Não vemos passar o Senhor, em todo o Evangelho, se não fazendo o bem, ensinando o amor, acendendo a luz, disseminando a verdade.
Nunca pensou nisso? Depois de longas meditações, cheguei ao conhecimento de que na vida humana, junto aos que administram e aos que obedecem, há os que ensinam. Chego, pois, a pensar que nas esferas da Crosta há mordomos, cooperadores e servos. Muito especialmente, os que ensinam devem ser dos últimos.
Duas colônias importantes que nos convizinham, enviaram muitos servos para a mediunidade e pediram ao nosso Governador cooperasse com a remessa de missionários competentes para o ensino e a orientação.
Tarefa:
Deveria desempenhar atividades concernentes meu resgate pessoal e atender à tarefa honrosa, veiculando luzes a irmãos nossos nos plano visível e invisível.
Impunha-se-me sobretudo, o dever de amparar as organizações mediúnicas, estimulando companheiros de luta, postos na Terra a serviço da idéia imortalista.
Entretanto meu amigo, não consegui escapar à rede envolvente das tentações.
Circunstâncias várias, que me pareceram casuais, situaram-me o esforço na presidência de um grande grupo espiritista. Os serviços eram promissores, as atividades nobres e construtivas, mas enchi-me de exigências, levado pelo excessivo apego à posição de comando do barco doutrinário.
Oito médiuns, extremamente dedicados ao esforço evangélico, ofereciam-me colaboração ativa.
Cerrei os olhos à lei do merecimento individual, olvidei os imperativos do esforço próprio e, envaidecido com os meus conhecimentos do assunto, comecei por atrair amigos de mentalidade inferior ao nosso círculo, tão somente em virtude da falsa posição que usufruíam na cultura filosófica e na pesquisa científica. Insensivelmente, vicejaram-me na personalidade estranhos propósitos egoísticos.
Meus novos amigos queriam demonstrações de toda a sorte e, ansioso por colher colaboradores na esfera da autoridade científica, eu exigia dos pobres médiuns longas e porfiadas perquirições nos planos invisíveis.
O resultado era sempre negativo, porque cada homem receberá, agora e no futuro, de acordo com as próprias obras. Isso me irritava. Instalou-se a dúvida em meu coração, devagarzinho. Perdi a serenidade doutro tempo.
Comecei a ver nos médiuns, que se retraíam aos meus caprichos, companheiros de má vontade e má fé. Prosseguiam nossas reuniões, mas da dúvida passei à descrença destruidora.
O Evangelho, todavia, é livro divino e, enquanto permanecemos na cegueira da vaidade e da ignorância, não nos expõe seus tesouros sagrados. Por isso mesmo, tachava-o de velharia. E, de desastre a desastre, antes que me firmasse na tarefa de ensinar, os amigos brilhantes do campo de cogitações inferiores da Terra arrastavam-me ao negativismo completo. Do nosso agrupamento então, onde poderia edificar construções eternas, transferi-me para o movimento, não da política que eleva, mas da politicalha inferior, que impede o progresso comum e estabelece a confusão nos encarnados. Por isso estacionei muito tempo desviado dos meus objetivos fundamentais porque a escravidão ao dinheiro me transformou os sentimentos.
E assim foi, até que acabei meus dias com uma bela situação financeira no mundo e... um corpo crivado de enfermidades; um palácio confortável de pedra e um deserto no coração. A revivescência da minha inferioridade antiga religou-me a companheiros menos dignos no plano dos encarnados e desencarnados, e o resto o meu amigo poderá avaliar: tormentos, remorsos, expiações...
- Mas, como não ser assim?
Como aprender sem a escola, sem retomar o bem e corrigir o mal?
Estudo do Capítulo 9 – Ouvindo Impressões
André atento às conversações, com o objetivo de instruir-se:
Casos: Marina – Ernestina – Companheiro
Muitos grupos se mantinham em palestra interessante e educativa, observando que quase todos comentavam as derrotas sofridas na Terra. Alguns companheiros mantinham discreta permuta de pareceres.
Marina – não tinha o apoio da família, não conquistou o entendimento do marido e nem a colaboração efetiva das filhas. Diante desses fatos como ela conseguiria atender as obrigações mediúnicas.
Ernestina – a causa do seu desastre foi o medo. Tive medo de tudo e de todos. Não vigiei como deveria. O chamamento ao serviço foi no tempo certo. Orientando-me o raciocínio a melhores esclarecimentos, nossos instrutores me proporcionavam os mais santos incentivos, mas desconfiei dos homens, dos desencarnados e até de mim mesma. Tinha tanto receio das mistificações que prejudiquei a minha bela oportunidade de trabalho.
Companheiro – Relatava que faltou o amparo da esposa. Pois, enquanto ao lado da esposa, era profundo o equilíbrio em minhas forças psíquicas. A companhia dela, sem que eu pudesse explicar, compensava-me todo o gasto de energia mediúnica. Minha noção de balanço estava nas mãos de minha querida Adélia. Não aprendi a ciência da conformação e nem me resignei a percorrer sozinho as estradas humanas. Quando a esposa morreu, amendroutou-se, ficou desiquilibrado, e erradamente, procurei substituí-la e fui acidentado. Extremamente ligado a entidades malfazejas, minha segunda mulher, com os seus desvarios, arrastou-me a perversões sexuais de que nunca me supusera capaz. Começou bem e acabou mal.
Ponderou uma das senhoras que parecia mais segura de si, - sempre temos recursos e pretextos para fugir às culpas. Encaremos nossos problemas com realismo. Talvez pudesse conquistar o entendimento do esposo e a colaboração afetuosa das filhas, se trabalhasse em silêncio, mostrando sincera disposição para o sacrifício.
Mariana concordava com a observação. Em verdade, nunca pude sofrer a incompreensão dos meus sem reclamar.
Para trabalharmos com eficiência – tornou a companheira sensata –, é preciso saber calar antes de tudo. Teríamos atendido perfeitamente aos nossos deveres, se tivéssemos usado todas as receitas de obediência e otimismo que fornecemos aos outros. Aconselhar é sempre útil, mas aconselhar excessivamente pode traduzir esquecimento de nossas obrigações.
Construir com Jesus
Fomos preparados para resgatar antigos débitos e efetuar edificações novas. Fomos ao círculo carnal para construir com JESUS, mas caímos na tolice de acreditar que andávamos pela Terra para discutir nossos caprichos. Não executei minha tarefa mediúnica, em virtude da irritação que me dominou, dada a indiferença dos meus familiares pelos serviços espirituais. Deixei espaço para a mente rebelde e enfermiça. Passei o tempo inutilizada para qualquer trabalho de elevação espiritual.
É indispensável contar com o assédio de todos os elementos contrários. Ironias da ignorância, ataques da insensatez, sugestões inferiores da nossa própria animalidade surgirão, com certeza, no caminho de todo trabalhador fiel. São circunstâncias lógicas e fatias do serviço, porque não vamos ao mundo físico para descanso injustificável, mas para lutar pela nossa melhoria, a despeito de todo impedimento fortuito.
Ouvimos o relato dos companheiros que já expiaram nas regiões inferiores, mas aguardam novos recursos da Providência.
REFLEXÃO:
“Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações más”. (Cap. XVII, ESE)
Parábola do semeador
“Aquele, porém que recebe a semente em boa terra é o que escuta a palavra, que lhe presta atenção e em quem ela produz frutos”. (Cap. XVII, ESE)
Estudo do Capítulo 10 – A Experiência de Joel 919. Qual o meio prático mais eficaz para se melhorar nesta vida e resistir ao arrastamento do mal?
- Um sábio da Antigüidade vos disse: "Conhece-te a ti mesmo".
- Um sábio da Antigüidade vos disse: "Conhece-te a ti mesmo".
A questão 919 do Livro dos Espíritos, que aborda o tema "Conhecimento de si mesmo", foi respondida pelo espírito Santo Agostinho.
Afastando-nos para um canto do salão, acompanhei Vicente que se a um velhote de fisionomia simpática.
- Então, meu caro Joel, como vai? - perguntou, atencioso.
O interpelado teve uma expressão melancólica e informou:
- Graças à Bondade Divina, sinto-me bastante melhorado. Tenho ido mente as aplicações magnéticas dos Gabinetes de Socorro, no Auxílio, e mais forte.
- Cederam as vertigens? - indagou o companheiro, com interesse.
- Agora são mais espaçadas e, quando surgem, não me afligem o com tanta intensidade.
Nesse instante, Vicente descansou os olhos muito lúcidos nos meus, e sorrindo:
- Joel também andou nos círculos carnais em tarefa mediúnica e pode experiência muito interessante.
O que mais me impressionou no caso dele, porém - interpôs Vicente em tom fraterno - é a moléstia que o acompanha até aqui e persiste ainda agora. Joel atravessou as regiões inferiores com dificuldades extremas, após demorar porém muito tempo, voltando ao Ministério do auxílio perseguido de alucinações estranhas, relativamente ao pretérito.
- Ao passado? - perguntei, surpreendido
- Sim - esclareceu humilde -, minha tarefa mediúnica exigia sensibilidade mais apurada e, quando me comprometi executar o serviço, fui ao Ministério do Esclarecimento onde me aplicaram tratamento especial que me aguçou as percepções. Necessitava condições sutis para o desempenho dos futuros deveres. Assistentes amigos desdobraram-se em obséquios, por me favorecerem e parti para a Terra com todos os requisitos indispensáveis ao êxito de minhas benevolências, porém...
- Mas por que - indaguei - perdeu as realizações? Tão só em virtude da sensibilidade adquirida?
Joel sorriu e obtemperou:
- Não perdi pela sensibilidade, mas pelo seu mau uso.
- Que diz? - tornei, admirado.
- O meu amigo compreendeu sem dificuldades. Imagine, com um cabedal dessa natureza, ao invés de auxiliar os outros, perdi-me a mim mesmo. É que, segundo concluo agora, Deus concede a sensibilidade apurada como espécie de lente poderosa, que o proprietário deve usar para definir roteiros, fixar perigos e vantagens do caminho, localizar obstáculos comum ajudando ao próximo e a si mesmo. Procedi, porém ao inverso. Não utilizei a lente maravilhosa de um modo muito justo. Deixei-me empolgar pela curiosidade doentia, apliquei-a tão somente para dilatar minhas sensações. No quadro dos meus trabalhos mediúnicos, estava a recordação de existências pregressas como expressão indispensável ao serviço de esclarecimento coletivo e benefício aos semelhantes, que me fora concedido realizar, mas existe uma ciência de recordar, que não respeitei como devia.
Bafejaram-me claridades espirituais de elevada expressão. Desenvolveu-se-me a clarividência, mas não estava satisfeito senão por rever meus companheiros visíveis e invisíveis, no setor das velhas lutas religiosas. Impunha a mim mesmo a obrigação de cada um deles no tempo, fazendo questão de as fichas biográficas, sem cuidar do verdadeiro aproveitamento no campo do trabalho construtivo.
Não faltaram generosas advertências. Freqüentemente, os colegas do nosso grupo espiritista chamavam-me a atenção para os problemas sérios de nossa casa. Eram sofredores que nos batiam à porta, situações que reclamavam testemunho cristão. Tínhamos um abrigo de órfãos em projeto, um ambulatório que começava a nascer e, sobre tudo, serviços semanais de instrução evangélica, nas noites de terças e sextas-feiras. Mas, qual! eu não queria saber senão das minhas descobertas pessoais.
Contrariamente a expectativa dos abnegados amigos que me auxiliaram na obtenção da oportunidade sublime, não me movi no concurso fraterno e desinteressei-me da doutrina consoladora, que hoje revive o Evangelho de Jesus entre os homens. Somente procurei, a rigor, os que se encontravam afins comigo, desde o pretérito. Nesse propósito, descobri, com evidentes sinais de identidade, personalidades outrora eminentes, em relação comigo. Reconheci o senhor Higino de Salcedo, grande proprietário de terras, que me havia sido magnânimo protetor, perante as autoridades religiosas da Espanha, reencarnado como proletário inteligente e honesto, mas em grande experiência de sacrifício individual. Revi o velho Gaspar de Lorenzo, figura solerte de inquisidor cruel, que me quisera muito bem, reencarnado como paralítico e cego de nascença. E desse modo, meu amigo, passei a existência, de surpresa em surpresa, de sensação em sensação.
Nesse momento, porém, o interlocutor empalideceu de súbito. Os olhos, desmesuradamente abertos, vagavam como se fixassem quadros impressionantes, muito longe da nossa perspectiva. Depois cambaleou, mas Vicente o amparou de pronto, e, passando a destra na fronte, murmurava em voz firme:
- Joel! Joel! Não se entregue às impressões do passado! Volte ao Presente de Deus!...
Profundamente admirado notei que o convalescente regressava a expressão normal, esfregando os olhos.
André pergunta ao amigo Otávio, o que teria motivado seu martírio moral? Noto-o tão consciente de si mesmo, tão superiormente informado sobre as leis da vida, que me custa acreditar se encontre necessitado de novas experiências nessas atividades.
Otávio, que aparentava 40 anos, relata a André sua queda no trabalho mediúnico, pois perdeu maravilhosa oportunidade de elevação. Pois tudo foi combinado, voltou, não só prometendo fidelidade aos seus instrutores, como também hipotecando a certeza do seu devotamento às seis entidades amigas a quem muito devia.
Sua preparação em Nosso Lar, antes de reencarnar na Terra.
Otávio contraiu dívidas enormes na esfera carnal. Em outro tempo, bateu às portas de “Nosso Lar”, sendo atendido por irmãos dedicados, que se revelaram incansáveis para ajudá-lo. Durante 30 anos consecutivos foi preparado em “Nosso Lar” para voltar a Terra em tarefa mediúnica, desejoso de saldar suas contas e elevar-se alguma coisa.
- Conheceu o roteiro certo, que o Pai designou para suas lutas na Terra.
- Tinha considerável cultura evangélica.
- Recebeu estímulos santos ao seu coração imperfeito.
- Recebeu um corpo físico rigorosamente sadio.
- Foi concedido trabalho de relevo na esfera física de consolação às criaturas.
- Permaneceu junto dos colaboradores encarnados no Brasil.
- O matrimônio não deveria entrar na linha de suas cogitações. (obs.: Não que o casamento possa colidir com o exercício da mediunidade, mas porque no caso de Otávio, em particular, assim o exigia.)
- Solteiro, deveria receber, aos 20 anos, os 6 amigos que muito trabalharam por ele em Nosso Lar, os quais chegariam ao seu círculo como órfãos. (obs.: Seu débito com essas entidades tornou-se muito grande, a providência não só constituiria agradável resgate para ele, como também, garantia de triunfo pelo serviço de assistência a elas, o que preservaria seu coração de leviandades e vacilações.)
- Ficou assentado que muitas atividades novas começariam com muitos sacrifícios, para que o possível carinho de outrem não amolecesse a sua fibra de realizações, e para que não escravizasse sua tarefa a situações caprichosas do mundo.
- Mais tarde, então, com o correr dos anos de edificação, seria enviado de “Nosso Lar” socorros materiais, cada vez maiores, à medida que ele fosse testemunhando renúncia de si mesmo, desprendimento das posses efêmeras, desinteresse pela remuneração dos sentidos, de maneira a intensificar, progressivamente, a semeadura de AMOR confiada às suas mãos.
Reencarnado na Terra:
A famíla: Sua mãe, verdadeira serva de Jesus, era espiritista cristã desde moça, seu pai, com tendências materialistas, mas um homem de bem.
Aos treze anos ficou órfão de mãe, e aos quinze começaram os primeiros chamados da esfera superior. Nessa ocasião, seu pai contraiu segundas núpcias e, apesar da bondade e cooperação que a madrasta lhe oferecia, ele se colocava num plano de falsa superioridade, a respeito dela. Em vão, sua genitora endereçou, do invisível, apelos sagrados ao seu coração. Otávio vivia revoltado, entre queixas e lamentações descabidas. Seus parentes conduziram-lhe a um grupo espírita de excelente orientação evangélica onde suas faculdades poderiam ser postas a serviço dos necessitados e sofredores; entretanto, faltavam-lhe qualidades de trabalhador e companheiro fiel. Sua negação em matéria de confiança nos orientadores espirituais e acentuado pendor para a crítica dos atos alheios compeliam-lhe a desagradável estacionamento.
Os beneméritos amigos do invisível estimulavam ao serviço, mas ele duvidava deles com a sua vaidade doente. Como prosseguissem os apelos sagrados, por ele interpretados como alucinações, procurou um médico que lhe aconselhou experiências sexuais. Completara, então, dezenove anos e entregou desenfreadamente ao abuso de faculdades sublimes. Desejava conciliar, a força, o prazer delituoso e o dever espiritual, alheando-se, cada vez mais, dos ensinos evangélicos que os amigos da esfera superior ministravam.
Com pouco mais de vinte anos, seu pai foi arrebatado pela morte. Com a triste ocorrência, ficavam na orfandade seis crianças desfavorecidas, porquanto sua madrasta, ao se consorciar com pai de Otávio, trouxera para a tutela três pequeninos. Em vão implorou-lhe socorro a pobre viúva. Nunca me dignei aceitar os encargos redentores que me estavam destinados. Após dois anos de segunda viuvez, minha desventurada madrasta foi recolhida a um leprosário. Otávio se afastou, então, dos pequenos órfãos, tomado de horror. Abandonou definitivamente, sem refletir que lançava seus credores generosos, de “Nosso Lar”, a destino incerto. Em seguida, dando largas a ociosidade, com uma ação menos digna e foi obrigado a casar pela violência. Mesmo assim, porém, persistiam os chamados do invisível, revelando-lhe a inesgotável misericórdia do Altíssimo. Contudo, à medida que olvidava seus deveres, toda tentativa de realização espiritual figurava mais difícil. E continuou a tragédia que inventou para seu próprio tormento. A esposa a que se ligara, tão somente por apetites inconfessáveis, era criatura muito inferior à sua condição espiritual e atraiu uma entidade monstruosa, em ligação com ela, para tomar o papel de seu filho. Releguei à rua seis carinhosas crianças, cuja convivência concorreria decisivamente para minha segurança moral, mas a companheira e o filho, ao que pareceu, incumbiram-se da vingança. Atormentaram-lhe ambos, até ao fim da existência, quando para Nosso Lar regressou. Mal tendo completado quarenta anos, roído pela sífilis, pelo álcool e pelos desgostos… sem nada haver feito para seu futuro eterno… Sem construir coisa alguma no terreno do bem…
Otávio: – Como vê, realizei todos os meus condenáveis desejos, menos os desejos de Deus. Foi por isso que fali, agravando antigos débitos.
André: Abracei-o com simpatia fraternal, ansioso de proporcionar estímulo ao coração, mas Dona Isaura aproximou-se mais, acariciou-lhe a fronte e falou:
— Não chores, filho! Jesus não nos falta com a bênção do tempo. Tem calma e coragem…
E identificando-lhe o carinho, meditei na Bondade Divina, que faz ecoar o cântico sublime do amor de mãe, mesmo nas regiões de além-morte.
Reflexão de Otávio:
- As tarefas espirituais ocupam-se de interesses eternos e daí a enormidade de sua falta. Os aprendizes ou beneficiários, nos tempos da Revelação nova, podem referir-se a determinados impedimentos; mas o missionário é obrigado a caminhar com um patrimônio de certezas tais, que coisa alguma o exonera das culpas adquiridas.
- Tinha amigos generosos no plano superior, que se faziam visíveis aos meus olhos, recebia mensagens repletas de amor e sabedoria, e no entanto, cai mesmo assim, obedecendo a IMPREVIDÊNCIA e a VAIDADE.
Estudo do Capítulo 8 – O desatre de Acelino
Acelino – Recebe conforto e amparo da equipe de “Nosso Lar”.
André Luiz, então conhece Acelino que partilhara a mesma experiência de Otávio.
(Acelino conversa com Otávio) - Não chore, meu caro. Você não está desamparado. Além disso, pode contar com o devotamento materno. Vivo em piores condições, mas não me faltam esperanças. Sem dúvida, estamos em bancarrota espiritual; no entanto, é razoável aguardarmos, confiantes, um novo empréstimo de oportunidades do Tesouro Divino. Deus não está pobre.
- Não sou um criminoso para o mundo, mas sou um falido para Deus e para “Nosso Lar”.
- Sejamos, porém, lógicos — revidou Acelino, parecendo mais encorajado — você perdeu a partida porque não jogou, e eu a perdi jogando desastradamente. Tive onze anos de tormento nas zonas inferiores. Sua situação não reclamou esse drástico. Mesmo assim, confio na Providência.
Nesse instante, interveio Vicente, acrescentando:
- Cada um de nós tem a experiência que lhe é própria. Nem todos ganham nas provas terrestres.
Vicente voltando-se de modo especial, para André aduziu:
— Quantos de nós, os médicos, perdemos lamentavelmente na luta?
Depois de concordar, trazendo à baila o meu próprio caso, objetei:
- Seria, porém, muitíssimo interessante conhecer a experiência de Acelino. Teria sofrido o mesmo acidente de Otávio? Creio de grande aproveitamento penetrar essas lições. No mundo, não compreendia bem o que fossem tarefas espirituais, mas aqui a nossa visão se modifica. Há que cogitar do nosso futuro eterno.
História de Acelino – sua experiência no trabalho mediúnico.
- Após formular grandes promessas aos nossos maiores, partiu de “Nosso Lar”para uma grande cidade Brasileira, em serviço de nossa colônia.
- Recebeu valioso patrimônio instrutivo. Seguiu enriquecido de bênçãos.
- Tudo foi feito para a saúde do corpo e o equilíbrio da mente.
- O casamento estava em seu roteiro, Ruth, devotada companheira, colaborava para melhor desempenho das tarefas.
- 20 anos de idade foi chamado à tarefa mediúnica. (com enorme amparo dos benfeitores invisíveis).
- A vidência, a audição e a psicografia, que o Senhor concedeu-me por misericórdia, constituíam decisivos fatores de êxito em nossas atividades.
- Apesar das lições maravilhosas de amor evangélico, inclinou-se a transformar suas faculdades em fonte de renda material.
- Não me dispus a esperar pelos abundantes recursos que o Senhor me enviaria mais tarde, após meus testemunhos no trabalho, e provoquei eu mesmo, a solução dos problemas lucrativos.
- Amigos Espirituais aconselhavam o melhor caminho. Em vão, agarrei-me ao interesse inferior e fixei-me meu ponto de vista.
- Arbitrei o preço das consultas, com bonificações especiais, aos pobres e desvalidos da sorte. Grande número de famílias abastadas tomou-me por consultor habitual para todos os problemas. Interesse enorme foi despertado: melhoras físicas e solução de negócios materiais.
- As lições de espiritualidade superior, a confraternização amiga, o serviço redentor do Evangelho e as preleções dos emissários divinos ficaram a distância.
- NÃO mais a escola da virtude, do amor fraterno, da edificação superior e SIM a concorrência comercial, as ligações humanas legais ou criminais, os caprichos apaixonados, os casos de polícia e todo um cortejo de misérias da Humanidade, em suas experiências menos dignas. Transformara-se completamente a paisagem espiritual que me rodeava. A força de me cercar de pessoas criminosas, por questões de ganho sistemático, as baixas correntes mentais dos inquietos clientes encarceram-me em sombria cadeia psíquica.
- Transformei a mediunidade em fonte de palpites materiais e baixos avisos.
- A morte chegou. Desde o instante da grande transição, a ronda escura dos consulentes criminosos, que haviam precedido no túmulo, rodeou-me a reclamar palpites e orientações de natureza inferior. Queriam notícias de cúmplices encarnados, de resultados comerciais, de soluções atinentes a ligações clandestinas.
- Gritei, chorei, implorei, mas estava algemado a eles, por sinistros elos mentais, em virtude da imprevidência na defesa do meu próprio patrimônio espiritual. Durante 11 anos consecutivos nas zonas inferiores, expiei a falta, entre eles, entre remorso e a amargura.
Reflexão de Acelino:
Acelino calou-se, parecendo mais comovido, em vista das lágrimas abundantes. Fundamente sensibilizado, Vicente considerou:
— Que é isso? Não se atormente assim. Você não cometeu assassínios, nem alimentou a intenção deliberada de espalhar o mal. A meu ver, você enganou-se também, como tantos de nós.
Acelino, porém, enxugou o pranto e respondeu:
— Não fui homicida nem ladrão vulgar, não mantive o propósito íntimo de ferir ninguém, nem desrespeitei alheio lares, mas, indo aos círculos carnais para servir às criaturas de Deus, nossos irmãos, auxiliando no crescimento espiritual com Jesus, apenas fiz viciados da crença religiosa e delinqüentes ocultos, mutilados da fé e aleijados do pensamento. Não tenho desculpas, porque estava esclarecido, não tenho perdão, porque não me faltou assistência divina.
E, depois de longa pausa, concluiu gravemente:
— Podem avaliar a extensão da minha culpa?
- Ao primeiro chamado da esfera superior, acorri, apressado. Sentia, intuitivamente, a vívida lembrança de minhas promessas em “Nosso Lar”. Tinha o coração repleto de propósitos sagrados. Trabalharia muito longe a vibração das verdades eternas. Contudo, aos primeiros contatos com o serviço, a excitação química fez rodar o mecanismo de minhas recordações adormecidas, como o disco sob a agulha da vitrola, e lembrei toda a minha penúltima existência, quando envergara a batina, sob o nome de Monsenhor Alexandre Pizarro, nos últimos períodos da Inquisição Espanhola. Foi, então, que abusei da lente sagrada a que me referi. A volúpia das grandes sensações, que pode ser tão prejudicial como o uso do álcool que embriaga os sentidos, fêz-me olvidar os deveres mais santos.
Estudo do Capítulo 5 – Ouvindo Instruções
REFLEXÃO:
A terminologia médium advém do latim, médium, ou seja: meio, intermediário. Pessoa que pode servir de intermediário entre os Espíritos e os homens conforme instrui Allan Kardec.
Telésforo, antigo lidador da Comunicação, que pediu a presença de todos os aprendizes do trabalho de intercâmbio entre nós e os irmãos encarnados. Na palestra de Telésforo a conversa seria sobre as necessidades da representação de nossa colônia nos trabalhos terrestres. Aqui se encontram companheiros fracassados nas intenções mais nobres e irmãos outros desejosos de colaborar nas tarefas que condizem com as nossas responsabilidades atuais. Referimo-nos às laboriosas atividades da Comunicação, no plano carnal. Vemos nesta reunião grande parte dos cooperadores de "Nosso Lar", que faliram nas missões da mediunidade e da doutrinação, bem como outros muitos colegas que se preparam para provas dessa natureza nos círculos da Crosta.
Nossa repartição vem promovendo grande movimento de auxílio a irmãos encarnados e desencarnados, que se revelam incapazes de qualquer ação além da superfície terrestre.
Nossa tarefa é enorme. Precisamos ditar ensinamentos novos, relativamente à preparação dos que habitam nossa colônia, considerando os esforços e realizações do presente e do porvir.
É indispensável socorrer os que enfrentam, corajosos, as profundas transformações do planeta.
As transições essenciais da existência na Terra encontram a maioria dos homens absolutamente distraídos das realidades eternas. A mente humana abre-se, cada vez mais, para o contacto com as expressões indivisíveis, dentro das quais funciona e se movimenta. Isto é uma fatalidade evolutiva. Desejamos e necessitamos auxiliar as criaturas terrestres; todavia, contra a extensão de nosso concurso fraterno, operam dilatadas correntes de incompreensão. Não relacionamos apenas a ação da ignorância e da perversidade. Agem, contraditoriamente, nesse particular, grande número de forças do próprio espiritualismo. Combatem-nos algumas escolas cristãs, como se não colaborássemos com o Mestre Divino. A Igreja Romana classifica-nos a cooperação como diabólica. A Reforma Luterana, em seus matizes variados, persegue-nos a colaboração amistosa. E há correntes espiritualistas de elevado teor educativo, que nos malsinam a influência, por quererem o homem aperfeiçoado de um dia para outro, rigorosamente redimido a golpe instantâneo da vontade, sem realização metódica.
No campo de nosso conhecimento da vida, não podemos condená-los pelo desentendimento atual. O catolicismo romano tem suas razões ponderáveis; o protestantismo é digno de nosso acatamento; as escolas espiritualistas possuem notáveis edificações. Toda expressão religiosa é sagrada, todo movimento superior de educação espiritual é santo em si mesmo. Temos, então diante de nós, a incompreensão dos bons, que constitui dolorosa prova para todos os trabalhadores sinceros, porque, afinal, não estamos fazendo obra individual e sim promovendo movimento libertador da consciência humana, a favor da própria idéia religiosa do mundo.
Sacerdotes e Intérpretes dos núcleos organizados da religião e da filosofia, não percebem ainda que o espírito da Revelação é progressivo, como a alma do homem. As concepções religiosas se elevam com a mente da criatura. Muitas igrejas não compreendem, por enquanto, que não devemos espalhar a crença nos tormentos eternos para os desventurados, e sim a certeza de que há homens infernais criando infernos para si mesmos.
Na questão 159 do Livro dos Médiuns. Todo aquele que sente, num grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns. Todavia, usualmente, assim só se qualificam aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então depende de uma organização mais ou menos sensitiva. E de notar-se, além disso, que essa faculdade não se revela, da mesma maneira, em todos. Geralmente, os médiuns têm uma aptidão especial para os fenômenos desta, ou daquela ordem, donde resulta que formam tantas variedades, quantas são as espécies de manifestações.
As principais são: a dos médiuns de efeitos físicos; a dos médiuns sensitivos, ou impressionáveis; a dos audientes; a dos videntes; a dos sonambúlicos; a dos curadores; a dos pneumatógrafos; a dos escreventes, ou psicógrafos.
Na questão 459 do Livro dos Espíritos, temos: – Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos?
“Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem.”
Estudo do Capítulo 6 – Advertências Profundas
Outras colônias de nossa esfera providenciam tarefas da mesma natureza, mas pouquíssimos são os que se lembram das realidades eternas, no “outro lado do véu”... A ignorância domina a maioria das consciências encarnadas. E a ignorância é mãe das misérias, das fraquezas, dos crimes. Grandes Instrutores, nos fluidos da carne, amedrontam-se por sua vez, diante dos atritos humanos, e se recolhem, indevidamente, na concepção que lhes é própria. Esquecem-se de que Jesus não esperou que os homens lhe atingissem as glórias magnificentes e que, ao invés, desceu até ao plano dos homens para amar, ensinar e servir. Não exigiu que as criaturas se fizessem imediatamente iguais a Ele, mas fêz-se como os homens, para ajudá-los na vida áspera.
E, com profundo brilho no olhar, Telésforo acentuou, depois de pequeno intervalo:
— Se o Mestre Divino adotou essa norma, que dizer das nossas obrigações de criaturas falidas?
Abstraindo-nos das necessidades imensas de outros grupos, procuremos identificar as falhas existentes naqueles que nos são afins. Em derredor de nós mesmos, os laços pessoais constituem extenso campo de atividade para o testemunho.
Em derredor de nós mesmos, os laços pessoais constituem extenso campo de atividade para o testemunho.
Cesse, para nós outros, a concepção de que a Terra é o vale tenebroso, destinado a quedas lamentáveis, e agasalhemos a certeza de que a esfera carnal é única grande oficina de trabalho redentor. Preparemo-nos para a cooperação eficiente e indispensável. Esqueçamos os erros do passado e lembremo-nos de nossas obrigações fundamentais.
A causa geral dos desastres mediúnicos é a ausência da noção de responsabilidade e da recordação do dever a cumprir.
Quantos de vós fostes abonados, aqui, por generosos benfeitores que buscaram auxiliar-vos, condoídos de vosso pretérito cruel? Quantos de vós partistes, entusiastas, formulando enormes promessas? Entretanto, não soubestes recapitular dignamente, para aprender a servir, conforme os desígnios superiores do Eterno. Quando o Senhor vos enviava possibilidades materiais para o necessário, regressáveis à ambição desmedida; ante o acréscimo de misericórdia do labor intensificado, agarrastes a idéia da existência cômoda; junto às experiências afetivas, preferistes os desvios seriais ao lado da família, voltastes à tirania doméstica, e sob interesses da vida eterna sobrepusestes as sugestões interiores da preguiça e da vaidade. Destes-vos, na maioria, a palavra sem responsabilidade e à indagação sem discernimento, amontoando atividades inúteis. Como médiuns, muitos de vós preferíeis a inconsciência de vós mesmos; como doutrinadores, formuláveis conceitos para exportação, jamais para uso próprio.
Contudo, não abandonemos nossos deveres a meio da tarefa. Voltemos ao campo, retificando as semeaduras. O Ministério da Comunicação vem incentivando esse movimento renovador. Necessitamos de servidores de boa vontade, leais ao espírito da fé. Não serão admitidos os que não desejarem conhecer a glória oculta da cruz do testemunho, nem atendem aqui os que se aproximem com objetivos diferentes...
Aqui estamos todos, companheiros da Comunicação, endividados com o mundo, mas esperançosos de êxito em nossa tarefa permanente. Levantemos o olhar, o Senhor renova diariamente nossas benditas oportunidades de trabalho, mas, para atingirmos os resultados precisos, é imprescindível sejamos seguidores da renunciação ao inferior. Nenhum de nós, dos que aqui nos encontramos, está livre do ciclo de reencarnações na Crosta, portanto, somos sequiosos de Vida Eterna. Não olvidemos, desse modo, o Calvário de Nosso Senhor, convictos de que toda saída dos planos mais baixos deve ser uma subida para a esfera superior. E ninguém espere subir, espiritualmente, sem esforço, sem suor e sem lágrimas.
REFLEXÃO:
NINGUÉM PODERÁ VER O REINO DE DEUS SE NÃO NASCER DE NOVO – Cap. IV – O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Estudo do Capítulo 3 – Centro de Mensageiros
Antes de reencarnarem, os médiuns são preparados no Mundo Espiritual?
O Centro de Mensageiros, no Ministério da Comunicação, prepara entidades a fim de que se transformem em cartas vivas de socorro e auxílio aos que sofrem no Umbral, na Crosta e nas Trevas. Organizamos turmas compactas de aprendizes para a reencarnação. Médiuns e doutrinadores saem daqui às centenas, anualmente. Tarefeiros do conforto espiritual encaminham-se para os círculos carnais, em quantidade considerável, habilitados pelo nosso Centro de Mensageiros.
E essa preparação é garantida de êxito do tarefeiro na Terra?
Essa preparação não constitui, ainda, a realização propriamente dita. Saem milhares de mensageiros aptos para o serviço, mas são muito raros os que triunfam. Alguns conseguem execução parcial da tarefa, outros muitos fracassam de todo. O serviço legítimo não é fantasia. É esforço sem o qual a obra não pode aparecer nem prevalecer.
Então, nenhum médium na Terra pode afirmar que não esteja preparado?
Longas fileiras de médiuns e doutrinadores para o mundo carnal partem daqui, com as necessárias instruções, porque os benfeitores da Espiritualidade Superior, para intensificarem a redenção humana, precisam de renúncia e de altruísmo. Quando os mensageiros se esquecem do espírito missionário e da dedicação aos semelhantes, costumam transformar-se em instrumentos inúteis. Há médiuns e mediunidade, doutrinadores e doutrina, como existem a enxada e os trabalhadores. Pode a enxada ser excelente, mas, se falta espírito de serviço no cultivador, o ganho da enxada será inevitavelmente a ferrugem. Assim acontece com as faculdades psíquicas e com os grandes conhecimentos.
- Raros triunfam, porque quase todos estamos ainda ligados a extenso pretérito de erros criminosos, que nos deformaram a personalidade. Em cada novo ciclo de empreendimentos carnais, acreditamos muito mais em nossas tendências inferiores do passado, que nas possibilidades divinas do presente, complicando sempre o futuro. É desse modo que prosseguimos, por lá, agarrados ao mal e esquecidos do bem, chegando, por vezes, ao disparate de interpretar dificuldades como punições, quando todo obstáculo traduz oportunidade verdadeiramente preciosa aos que já tenham “olhos de ver”.
Vicente — falou Aniceto sem afetação —, André Luiz é nosso novo colaborador. Foi também médico nas esferas carnais. Creio, pois, que ambos se encontrarão à vontade, partilhando a mesma experiência.
O interpelado abraçou-me, demonstrando extrema generosidade, e, após encorajar-me com belas palavras de estímulo, perguntou ao nosso orientador:
— Quando deveremos procurá-lo para os estudos de hoje?
Aniceto pensou um instante e respondeu:
— Esclareça ao novo candidato os nossos regulamentos e venham juntos para as instruções, após o meio-dia.
Estudo do Capítulo 4 – Vicente
Impossível traduzir meu contentamento com a nova companhia. Vicente, semblante muito calmo, olhar inteligente e lúcido, irradiava carinho e bondade, sensatez e compreensão.
Disse-me de sua alegria por haver encontrado um companheiro médico, alojou-me convenientemente junto dele, demonstrando extrema generosidade fraternal.
Era o primeiro colega na profissão, igualmente recém-chegado das esferas da Crosta, de quem me aproximava de modo direto.
Trocamos idéias, largamente, sobre as surpresas que nos defrontavam. Comentamos as dificuldades oriundas da ilusão terrestre, a miopia da pequena ciência, os problemas profundos e sedutores da medicina espiritual.
Vicente, conquanto não houvesse feito ainda qualquer visita ao plano dos encarnados, em caráter de serviço, admirava Aniceto extraordinariamente, e punha-me ao corrente dos estudos valiosos a que se entregava junto dele.
Estava cheio de conceitos entusiásticos. Em pouco mais de uma hora, nossa intimidade semelhava-se ao sentimento de dois irmãos unidos, desde muito, por laços espirituais. O novo companheiro conquistara-me infinita confiança.
Imprimi toda a ênfase possível ao meu relatório verbal, sensibilizando-me, profundamente, no curso da narrativa. Em cada pormenor culminante dos fatos, detinha-me de propósito, salientando meus velhos sofrimentos e relacionando dissabores que me pareciam insuperáveis.
Vicente ouviu silencioso, sorrindo a intervalos.
Quando terminei a comovida exposição, ele pôs-me a destra no ombro e murmurou:
— Não se julgue desventurado e incompreendido. Saiba, meu caro André que você foi muitíssimo feliz.
— Como assim?
— Sua Zélia respeitou o companheiro até ao fim, e o segundo matrimônio, em tais circunstâncias, não é de admirar. No meu caso, porém, a coisa foi muito pior.
Não pode você imaginar como foi intenso o sonho de amor do meu casamento. Logo após a aquisição do diploma profissional, aos vinte e cinco anos, esposei Rosalinda, exultante de ventura. Não levava a esposa tão somente uma situação material confortadora e sólida, no terreno financeiro, mas também os meus tesouros de afeto e devotamento. Minha felicidade não tinha limites. Em pouco tempo, dois filhinhos enriqueceram-me o lar ditoso. Meu bem-estar era inexprimível. Em virtude das reservas bancárias, não me especializei na clínica, consagrando-me, todavia, apaixonadamente, ao laboratório. Atendendo aos meus pendores, não me foi difícil atrair a confiança de numerosos colegas e vários centros de estudos, multiplicando pesquisas e resultados brilhantes. E Rosalinda era a minha primeira e melhor colaboradora. De quando em quando, notava-lhe o enfado no trato com os tubos de ensaio, mas minha esposa sabia então calar as contrariedades pequeninas, a favor da nossa felicidade doméstica. Parecia compreender-me integralmente. Era, aos meus olhos, a mãe dedicada e companheira sem defeitos.
Contávamos dez anos de ventura conjugal, quando meu irmão Eleutério, advogado, solteiro, algo mais velho que eu, deliberou localizar-se junto de nós. Rosalinda foi inexcedível em atenções, considerando que se tratava de pessoa de minha família. Eleutério entrou em nossa casa como irmão. Embora residisse em hotel, compartilhava dos nossos serões caseiros, sempre bem posto e interessado em agradar.
Observei, desde então, que minha mulher se modificava pouco a pouco. Exigiu fosse contratada uma auxiliar que a substituísse nos meus serviços, alegando que os nossos filhinhos não dispensavam assistência maternal, mais assídua. Anuí, satisfeito. Tratava-se, afinal, de providência interessante ao bem-estar de nossos filhos. Contudo, a transformação de Rosalinda assumiu caráter impressionante. Passou a não comparecer ao laboratório, onde tantas vezes nos abraçávamos, alegremente, ao vermos coroadas de êxito nossas pesquisas mais sérias. Preferia o cinema ou a estação de repouso, em companhia de Eleutério.
Isso me entristecia bastante, mas eu não poderia desconfiar da conduta de meu irmão. Fora sempre criterioso, em família, não obstante ousado e filaucioso nas atividades profissionais.
Minha vida doméstica, antes tão feliz, passou a ser de solidão assaz amarga, que eu tentava iludir com o trabalho persistente e honesto.
Assim corriam as coisas, quando singular transformação me alterou a experiência. Pequena borbulha na fossa nasal, que nunca me trouxera incômodos de qualquer natureza, depois de levemente ferida, tomou caráter de extrema gravidade. Em poucas horas, declarou-se a septicemia. Reuniram-se colegas em verdadeira assembléia, junto de meu leito. Inúteis, todavia, todos os cuidados; anuladas as melhores expressões de assistência. Compreendi que o fim se aproximava, rápido. Rosalinda e Eleutério pareciam consternados e, até hoje guardo a impressão de rever-lhes o olhar ansioso, no momento em que a neblina da morte me envolvia os olhos materiais.
Outra surpresa me dilacerava o coração. Somente ao regressar ao lar, soube que fora vítima de odioso crime. Meu próprio irmão inspirou a trama sutil e perversa. Minha mulher e ele apaixonaram-se perdidamente um pelo outro e cederam a tentações inferiores. Não havia que recorrer a divórcio, e, mesmo que a legislação o facultasse, constituiria um escândalo o afastamento de Rosalinda para unir-se ao cunhado. Eleutério lembrou, porém, que possuíamos experiências de laboratório e sugeriu a Rosalinda a idéia de me aplicarem determinada cultura microbiana, que ele mesmo se incumbiria de obter, na primeira oportunidade. A pobre da companheira não vacilou, e, valendo-se do meu sono descuidado, introduziu na minúscula espinha nasal, algo ferida, o vírus destruidor.
E aí tem você o meu caso naturalmente resumido.
André estava assombrado.
E os criminosos? — perguntei.
Vicente sorriu ligeiramente e informou:
— Rosalinda e Eleutério vivem aparentemente felizes, são excelentes materialistas, por enquanto, e gozam, no mundo transitório, grande fortuna amoedada e alto conceito social.
— Mas.., e a justiça? — indaguei, aterrado.
— Ora, André — esclareceu serenamente —, tudo vem a seu tempo, tanto no bem quanto no mal. Primeiro a semente, depois os frutos.
Percebendo-me, porém, as tristes impressões, Vicente concluiu:
Não falemos mais nisto. Aproxima-se a hora da instrução. Atendamos as nossas necessidades essenciais, auxiliando os nossos amados, que ainda permanecem à distância, nos círculos terrestres. Não se impressione. A árvore, para produzir, não reclama as folhas mortas. Para nós, atualmente, meu amigo, o mal é simples resultado da ignorância e nada mais.
Estudo do Capítulo 2 – Aniceto
(em construção)
Estudo do Capítulo 1 – Renovação
(em construção)